sexta-feira, 30 de outubro de 2009


O corpo como representação pública nos autorretrados de Frida Kahlo

Seria muito simples definir o corpo das mulheres através das características biológicas que as constituem, diriam simplesmente que a fêmea do ser humano possui um ovário, útero, vagina e clitóris e seria o bastante para explicar sua forma de sentir e viver no mundo. O corpo feminino e suas vicissitudes biológicas que por muitos séculos foram rechaçadas por sua inconstância, não e capaz de abarcar a complexidade do ser mulher, mas é essencial na sua situação frente ao mundo.
O corpo feminino transcende a biologia, os indivíduos não são largados a própria sorte no meio natural, são submetidos a seu meio social, a partir desta conjuntura o corpo é sujeitado a tabus, a leis e a valores que moldam sua participação em seu meio.
Portanto o contexto cultural, social, econômico e político assumem primordial importância na constituição das ações que moldam o comportamento do corpo através da história.
Nos quadros da pintora Frida Kahlo, temos contato com várias manifestações das ações de seu meio em seu corpo físico, desde sua infância até a idade adulta.
Nas obras de Frida temos continuidades e descontinuidades nas ações comportamentais, em alguns momentos marcados pela tradição e em outros por atitudes de vanguarda assumidas pela pintora. Ela busca livrar se dos cânones comportamentais pré- concebidos de posicionamento das mulheres na sociedade tradicional mexicana, mas sem deixar de desejar se realizar como mulher.
Os seus autorretratos são como espelhos de sua subjetividade e as temáticas ali tratadas tocam no âmago de todas as mulheres de uma forma ou de outra. Em sua obra a pintora buscou se desvencilhar dos conceitos que rotula cada ser humano desconstruindo a fronteira entre o masculino e o feminino experimentando em suas representações os dois universos. A arte como expressão libertadora permitiu romper as barreiras, Frida utilizou várias destas possibilidades, tendo seu corpo como mote de criação.
Em seus trabalhos busca se livrar de seu corpo real aonde convive com dor, padecimento e tabus para sentir a plenitude da liberdade artística, podendo assim, explanar as suas influências e os seus sentimentos mais profundos. Seus quadros possuem várias manifestações de sua forma de encarar a vida e transpor o comportamento aceitável para a sociedade da época. Frida demonstrou claramente suas tendências políticas, seu amor ao México, sua vida amorosa tortuosa e apaixonante com Diego Rivera, sua dor por não ter conseguido ser mãe, seu homossexualismo, tendo como palco seu corpo.
No caso de Frida podemos afirmar que sua arte é um estado d’alma e seu corpo o tema que mais a inspira por ser o que mais conhece, sua obra transgride, incomoda, rompe fronteiras e revela as contradições da divisão dualista do gênero como algo fixo e imutável. Em suas obras, sentiu a liberdade em sua plenitude, foi mulher, homem, animal, flor, fruto e até duas como em seu quadro “Duas Fridas”, rompendo os padrões estabelecidos e descortinando um universo de infinitas possibilidades.


Referências

BEAUVOIR, Simone. O Segundo Sexo. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1969.
KAHLO, Frida; ZAMORA, Marta. Cartas apaixonadas de Frida Kahlo. Rio de Janeiro: José Olympio, 2006.
KAHLO, Frida. O diário de Frida Kahlo.um retrato íntimo. Rio de Janeiro: José Olympio,1995.
KETTENMANN,Andrea. Frida Kahlo: 1907-1954. Dor e paixão. Lisboa: Benedikt Taschen, 2006.
MARTOCCIA, Maria; GUTIÉRREZ,Javiera. Corpos Frágeis, Mulheres Poderosa: Rio de Janeiro. Edioro,2002.
PERROT, Michelle. Minha história das mulheres. São Paulo: Contexto, 2007.
PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da história. Bauru: EDUSC, 2005.
PROENÇA, Graça. História da Arte. São Paulo: Editora Ática , 2007.
RAUDA, Jamis. Frida Kahlo: Milano. Longanesi,1985.
SZTAJNBERG,Rachel. Frida Kahlo: O Desamparo Encarnado. SITE: Antroposmoderno.
Disponível em: http://
www.antroposmoderno.com/textos/ frida kahlo.>html. Acesso em 12.12.2007.
Fonte iconográfica: Autorretrado com colar de espinhos,1940.
Disponível em :
www.antroposmoderno.com. Acesso em 12.12.2007.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A MUSA CLIO.

Clio é a musa da história e da criatividade, filha de Zeus, o deus dos deuses e Mnemósine, a deusa da memória.

Fonte da imagem: raffaelbarbosa.blogspot.com