quinta-feira, 29 de abril de 2010

O nascimento das favelas cariocas

A abordagem sobre essas comunidades geralmente são tratadas em segundo plano, os ditos “povo” nos cortiços ou nas ruas do Rio. Sem dar a devida atenção à formação social e a importância das favelas propriamente dita na sociedade carioca do início do século XX.
Após a vinda da família Real Portuguesa para o Brasil e a abertura dos portos as nações amigas (1808), iniciou-se uma enorme explosão demográfica. Somente a transferência da corte trouxe para o Brasil cerca de 15 mil pessoas. Com a abertura dos portos, a grande atividade comercial trouxe para o Brasil grande fluxo de pessoas de todas as partes do mundo, principalmente europeus.
De 1872 a 1890 a população praticamente dobrou. Neste momento a população estrangeira representava 40% da força de trabalho no Rio de Janeiro. Além do enorme contingente de ex-escravos que após a abolição se estabeleceram na capital federal.
Todo esse aumento no contingente populacional aconteceu de forma desordenada. A cidade não dispunha de serviços adequados de habitação e saneamento. Apesar de todo crescimento a cidade ainda mantinha seu aspecto colonial de ruas estreitas e mal iluminadas, prédios antigos transformados em habitações coletivas, os chamados cortiços considerados o embrião das favelas, tiveram origem nesse momento. Havia muitos mendigos pelas ruas, ambulantes e a falta de saneamento favoreciam surtos de doenças pestilenciais como a febre amarela, tuberculose, varíola e a peste bubônica. O velho centro estava habitado por gente simples e humilde vivendo em péssimas condições de higiene.
Essa era a mão de obra disponível para alavancar a economia da jovem República e ao contrário do que se imaginava, havia um enorme contingente populacional de imigrantes, tanto quanto de ex-escravos.
Devido à necessidade de atrair créditos e estimular o comércio com a Europa e Estados Unidos e também de afirmar o poder da elite republicana, era urgente a modernização a capital brasileira. Então em 1902 quando assumiu o governo o cafeicultor paulista Rodrigues Alves, aproveitando da boa situação econômica do país, iniciou as obras de remodelação, saneamento e embelezamento da capital brasileira.
Para tanto nomeou alguns dos melhores engenheiros para postos chaves de sua administração: Francisco Pereira Passos para prefeitura da cidade, Lauro Severiano Müller para ministro da indústria, viação e obras públicas, Francisco de Paula Bicalho para diretor técnico da Comissão das Obras do Porto do Rio de Janeiro e Andre Gustavo Paulo de Fontim para Presidente da Comissão Construtora da Avenida Central.
A avenida Central que a partir de 1912 passou a se chamar avenida Rio Branco em homenagem ao diplomata Ministro da Relações Exteriores, o Barão de Rio Branco, falecido naquele ano, foi uma via extensa aberta bem no meio da cidade. Com 1.800m de comprimento e 33m de largura foi criada para se tornar o centro comercial e financeiro da cidade e também o símbolo da modernização da cidade.
A construção dessa via expurgou a população de baixa renda da localidade, mas sem uma infra-estrutura adequada para acomodar todas essas pessoas, elas acabaram por ocupar mais intensamente os morros ao redor do centro da cidade. Essa população foi e continuou a ser a mão de obra de movimentava a economia da cidade. Por este motivo, buscavam se instalar em locais de mais fácil acesso, visto que o sistema de transporte era precário na época.
A grande densidade demográfica, a especulação imobiliária, os interesses econômico-financeiros, além de fatores externos como os soldados que voltaram da Guerra de Canudos e foram também se instalar nesses locais a espera dos seus soldos, levaram a proliferação das favelas na cidade.

Podemos a partir daí tirar algumas conclusões:

• A população dos cortiços, casas de cômodos e posteriormente das favelas, não eram exclusivamente formada por ex-escravos e mestiços. Havia muitos estrangeiros de toda parte, mas principalmente portugueses, que inclusive eram proprietários de terrenos nesses morros e alugavam os barracos ou o “chão” para pessoas de baixa renda.

• Podemos afirmar também que a mão de obra que movia a economia da cidade estava em sua grande maioria instalada nesses morros e favelas.



Referencias Bibliográficas:
• CARVALHO, Jose Murilo de. Os Bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Schwarcz, 2001.
• KOK, Gloria. Rio de Janeiro na época da Av. Central. São Paulo: Bei Comunicação, 2005.
• VALLADARES, L do Prado, A Gênese da Favela Carioca: a produção anterior às ciências sociais. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 15, n.º 44, out.2002.

Texto de Patricia Rodine de Andrade

Metal: Ano 40

"My Name is Lucifer, Please Take My Hand"

Primeiramente, devo explicitar os motivos que me levaram a escolha do tema: inconveniência. Achei que seria interessante escolher algo vindo das profundezas do Inferno, motivo pelo qual passei anteriormente por Varg Vikernes, pelo Immortal e até pelo Bathory, que são bandas (ou músico, no caso e Varg) bastante “from hell”, como se diz comumente, contudo, esse ano tive oportunidade de ler diversas notas, entrevistas e matérias sobre os 40 anos de lançamento do álbum de estréia do Black Sabbath, algo que, aliás, é legitimamente “from hell”, contudo, numa concepção “boazinha”, que aqui chamo de ambígua, e apesar de preferir o Uriah Heep e suas fadas em bosques frondosos ou o King Crimson em suas viagens que eu demorei pelo menos dez ou vinte ouvidas para entender algumas, optei pelo “velho Sabbath” e sua capa “horrível” (como comumente descrita) no álbum de estréia. Bom, que fique claro que apesar de não ser satãnista (o Office nem reconhece essa palavra) ou qualquer coisa do gênero, devo afirmar com certa justiça que, de tudo que já ouvi de rock (pra usar um termo absurdamente genérico) na minha vida, ele até que não deve ser um cara tão ruim assim, portanto, se você é, porventura, uma pessoa que lerá isso, leia sem preconceitos e não se esqueça jamais, “do tamanho do crucifixo que o Ozzy uso”, como sempre ressalta meu velho pai. Por fim, duas coisas: primeiro, a bibliografia está relacionada de forma bem informal, propositalmente, escrevi meio sem ligar para questões da ABNT e pretendo aprimorar ou simplesmente refazer tudo para o próximo mês, segundo, considero esse artigo simplesmente ruim, eu pensei em milhões de coisas e acabei me focando por caminhos estranhos no caráter subversivo que o Black Sabbath trouxe para o Heavy Metal (estilo que, basicamente, fundou), contudo, posso afirmar com certa convicção que escrevi com o coração, ou como afirmam os finlandeses do Brother Firetribe (esse trabalho não faria sentido se eu não citasse esses caras), “ganhando ou perdendo, o importante é jogar com o coração”.

O trabalho adota como fonte cultural, o álbum de estréia da banda inglesa Black Sabbath, lançado em 1970. A importância do trabalho se dá à medida que o Heavy Metal se constitui num estilo que, segundo Sam Dunn e Scot McFadyen constitui “uma tribo global”, o álbum de estréia do Black Sabbath, colocado como o “Ano Zero” do Metal lançou a base principal pela qual se consolidaria o estilo que se espalharia e adaptaria pelo mundo, como demonstrado, por exemplo, no documentário “Global Metal” de Sam Dunn e Scot McFadyen: “O Metal se adapta às mais variadas culturas, e se misturam musicalmente, dando ao Metal uma variação enorme de sonoridade, dependendo do lugar [...] somos uma tribo global”, o que pretendo é fazer uma análise desse álbum de maneira que possa explicitar como o mesmo serviu como base para um estilo que diversificou e espalhou-se tanto com o tempo.
O álbum de estréia do Black Sabbath, auto-intitulado, gravado num período de três dias em novembro de 1969 na Inglaterra e lançado em fevereiro de 1970 pela Vertigo (Reino Unido) e Warner em LP, lançado em CD pela primeira vez em 1996 pela Castle Remaster e relançado um vez em 2004 pela Sanctuary (Reino Unido) e pela Warner e outra vez em 2008 pela Sanctuary (Reino Unido), a lista de músicas ou a disposição da mesma varia em cada uma dessas versões. O álbum, em sua versão original e mais comum contém sete faixas (ou 38 minutos e 12 segundos aproximadamente), sua capa retrata, numa pintura de sombria, uma mulher vestido de preto, em meio à uma vegetação morta num jardim, ao fundo vê-se uma casa antiga, porém, a origem dessa pintura é desconhecida, os próprios membros da banda afirma desconhecer sua origem e o motivo de seu uso é apenas que “combina com a banda”, segundo Ozzy Osbourne, na parte traseira do LP ou na contracapa do CD há uma continuidade da cena onde se vê apenas uma vegetação morta, no interior do LP ou do CD há um grande traçado de um crucifixo de ponta-cabeça, onde dentro está escritos as informações técnicas do álbum e um poema de autoria da banda, que era formada na época por Tony Iommi (guitarra e teclado), Geeze Butler (baixo), Vinnie Apice (bateria) e Ozzie Osbourne (vocal, escrito também como “Ossie” na primeira edição do LP), as composições são de autoria de todos os membros, com exceção da Evil Woman, de Wiegard/Wiegard/Waggenor e Warning, de Aynsley Dunbar.
Através de uma análise desse álbum, pretendo definir de que maneira ele tornou-se, talvez, a principal influência do Heavy Metal, sendo considerado o “marco zero” para o estilo, uma fama que apenas Ozzy Osbourne, dos membros da banda na época, nega, rotulando o álbum de “heavy blues”.
Os critérios usados nessa análise são baseado no capítulo acerca a “música serial” de José Miguel Wisnik e influenciados fortemente pelos estudos feitos acerca o rock progressivo por Jefferson Araújo Pereira, também foram de inestimável ajuda os documentários de Sam Dunn e Scot McFadyen além de artigos de revistas especializadas, especificados na Bibliografia. Utilizando definições de cunho prático, a análise se limitará em reconhecer até que ponto o objeto em questão torna-se “influência” para o Metal; isso insere-se no contexto da história cultural, para isso, faço uso das idéias de Sandra Jatai Pesavento em seu livro “História e História Cultural”.

O Polka Tuk, formado em Birmighan, Inglaterra, em 1968, logo trocou seu nome para Earth por questões práticas, chegou a excursionar na Alemanha em 1969 e voltando para a Inglaterra, em 1969, já sob o nome de Black Sabbath (inspirado no filme de Mario Cava), assinou contrato com a Vertigo Records para gravar seu álbum de estréia, gravado num período de três dias em novembro de 1969 no Regent Sound Studios, o álbum foi gravado então “ao vivo”, com Ozzie cantando junto com os músicos. Lançado na sexta-feira 13 de fevereiro de 1970, o disco causou certo impacto até dos que gostavam do estilo, a começar pela sua arte gráfica, na capa, uma mulher vestido de preto num lugar pouco convidativo permanece um mistério até para seus integrantes, o próprio Bill Ward afirma nunca ter visitado o moinho da água que é o ponto que retrata a capa, apesar do mesmo ser um ponto de visitação bastante popular entre os fãs da banda, no encarte havia um crucifixo de ponta-cabeça com um poema não creditado, ambos idéia da gravadora, logo, aquilo que de imediato mais chocou não foram idéias vindas da própria banda, contudo, pode se dizer que pela aceitação de tais imagens essas podem ser consideradas a visualização da música, por assim dizer. O disco inicia-se com badaladas de sinos ao longe e logo entram acordes que formam um “diabulus in musica”, ou seja, formada por um trítono (musicalmente oposto à circularidade e uniformidade de uma oitava, dividindo-a ao meio, pulsos melódicos de complexa relação que se repetem em ciclos longos, evitada na música erudita ocidental por ser bastante instável e quase banido da música medieval, o trítono era colocado como oposto à “divindade” do canto gregoriano que se utilizava, predominantemente, da oitava, logo, o trítono figurou-se como a “nota do diabo”, ou seja, um “diabulus in musica”), a letra (coisa, aliás, relegada ao segundo plano no Heavy Metal e de importância simbólica) bastante “corrosiva”, segundo expressão de Ricardo Batalha e Antonio Carlos Monteiro, se trata de uma narrativa desesperada e cantada como tal, que se depara com uma figura assustadora: “What is this stands before me? / O que é isso que se levanta à minha frente?”, seguida pela faixa “The Wizard”, que é quase um blues, começando com um solo de gaita, a letra supostamente fala de Gandalf, personagem de Tolkien; a terceira faixa, Beyond The Wall of Sleep, é baseada no conto homônimo de H. P. Lovecraft, escritor que se fez notório no terror e no suspense; segue-se então N.I.B., a música que possivelmente melhor define esse álbum ao lado da primeira faixa, apesar de normalmente se atribuir diversos significados fortes à sigla N.I.B., a origem dele é mais simples, na verdade, o apelido de Bill Ward (“pen nib”, uma caneta tinteira, referência ao cavanhaque), o significado da letra não é muito claro e parece mesmo uma brincadeira interna dos próprios integrantes, apesar de parecer de uma narração de Lúcifer querendo aliciar alguém (“My name is Lucifer, please take my hand / Meu nome é Lúcifer, por favor pegue minha mão”), afirma Geezer Butler que se trata de Lúcifer apaixonado, também fazem parte do álbum foi covers, Evil Woman do The Crow e Warning do Retaliation, além da Wicked World, primeira música composta pelo quarteto e com um ritmo muito calcado no jazz. Apesar da banda não ter conseguido uma posição de destaque nas ditas “paradas”, o álbum foi suficiente não apenas para um turnê imediata e a gravação de um sucessor ainda em 1970, mas também para perturbar muitos pais e deixar em dúvida muitos filhos, a relação ambígua que o Black Sabbath mantinha com as questões morais, calcada numa representatividade do “lado negro”, manteve-se na banda durante todo o tempo e influenciou a ascensão de um estilo (o Heavy Metal, de maneira geral) que se inspirou, predominantemente no “lado negro”, característica necessário ao estilo segundo Carlos Lopes, contudo, creio que essas questões colocadas de forma tão chocante para a época pelo Black Sabbath foram radicalizadas à ponto de “causar medo”, segundo Sam Dunn, com o Venom em 1980 e que o próprio Venom iria provar-se ser “brincadeira de criança” (Sam Dunn novamente). Abraçando o rótulo, ou melhor, o mérito de fundadores do Metal, título aceitado com prazer pelos integrantes (exceto Ozzy), Black Sabbath, iria, exatamente dez anos depois mostrar-se como um verdadeiro “monólito” da qual fora apelidado na ocasião de lançamento álbum de estréia, com a saída de Ozzy e a entrada daquele que foi apelidado de “Voice of Metal”, Ronnie James Dio (inclusive o disseminador do sinal com as mãos que caracteriza o estilo), o Black Sabbath definitivamente abraçou sua condição, deixando sua ambigüidade moral mais acentuada com o lançamento do “Heaven and Hell”, contudo, aí seria outra história que, aliás, não mudaria os efeitos do primeiro álbum de 1970.
Se considerarmos o surgimento de bandas mais radicalizadas, nos anos 80 seguindo uma linha mais focada na linha ambígua de constante confronto/harmonia entre o bem e o mau, ou uma linha radicalizada onde o “lado negro” predomina, essa segundo linha, nos anos 90 iria desembocar em diversos tipos, sejam pautadas num anti-cristianismo e satãnismo permeado de dramaticidade teatral (Cradle of Filth, por exemplo), sejam pautadas num anti-cristianismo mesclado à mitologia como forma de afirmação não-cristã (Immortal, por exemplo), ou num radicalismo sem precedentes e extremamente corrosivo no sentido que denota preconceitos quase ilimitados (como é o caso de Varg Vikernes, do Burzum, que matou seu colega Euronymous por este “ter traído o Black Metal e tentado me matar” segundo o próprio Varg, e ter enviado uma carta bomba para Nir Nakav, judeu israelense integrante da banda Salem). Contudo, existe um outro lado encorajado pelo Black Sabbath que é o de enfrentamento, apesar do Metal ser um estilo particularmente avesso às reivindicações políticas em letras de músicas, a polêmica moral sempre foi um alvo, não uma crítica gratuita, mas uma afirmação de idéias que, no geral, fogem do contexto padrão, motivo talvez para a disseminação tão larga do Metal e adaptações das mais diversas culturas ao estilo, sendo inclusive forma de protesto político no em alguns países (Irã, Indonésia, por exemplo) e de união em outros (Índia, onde shows acontecem no mesmo local e horário de eventos tradicionais, ou Israel, onde bandas que aderem à diferentes religiões de vêem lado a lado), e mesmo de afirmação cultural (como na Rússia, com bandas que resgatam a música e a religião eslava, aliás, prática mais comum com bandas irlandesas), formando aquilo que Sam Dunn chama de “tribo global”.
De fato, seguraram a mão de Lúcifer.

A ocasião é convidativa (40 anos do lançamento do álbum), o momento também (a volta da formação de 1980 do Black Sabbath, sob o nome de Heaven and Hell, também as preliminares da primeira edição do Wacken Open Air no Brasil, o festival de Heavy Metal de maior público no mundo em uma edição nacional), além do Metal não ter propriamente uma etnia (podemos, para confirmar isso, pegar como exemplo o Orphaned Land em Israel, o X-Japan no Japão, o Mägo de Oz na Espanha, o Arkona na Rússia ou o Sepultura no Brasil); o Black Sabbath (voltemos para 1970) é, não a única, mas provavelmente a mais sólida base do Metal, que se tem um nascimento certo (o que não é preciso, mas não deixa de ser um marco de inestimável importância), podemos considerar o álbum de estréia do Black Sabbath, há 40 anos.


Bibliografia:

Documentários:
Heavy Metal – A Headbanger Journey; de Sam Dunn e Scot McFadyen
Global Metal (7 Countries, 3 Continents, 1 Tribe); de Sam Dunn e Scot McFadyen
Völkerball; de Rammstein

Livros:
As Obras-Primas do Rock Progressivo; de Jefferson Araújo Pereira
O Som e o Sentido; de José Miguel Wisnik

Artigos:
- Roadie Crew (Nº 124, 125, 128 e 135).
- Entrevista com Carlos Lopes, na Rock Brigade Online.

Texto de Pedro Gabriel Vieira Marques

Novos Textos, Novos Olhares


Textos dos alunos de Tecnologias e Linguagens no Ensino e Pesquisa de História do 6º Semestre do Campus Dutra-Guarulhos.
Metal 40- Pedro Gabriel Vieira Marques

A formação das favelas cariocas- Patricia Rodine de Andrade