quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A produção de "gado" continua a crescer no Brasil

Bem, a princípio o título deste Post pode até parecer não ter qualquer ligação com a História, mas em seu conteúdo procurarei traçar alguns paralelos, que talvez dêem alguma pista dessa ligação, tendo como foco a Educação. A Educação no Brasil continua abandonada e carente de projetos que a vincule a um caráter de emancipar o aluno, nos moldes apregoados e realçados por Paulo Freire em seu "Pedagogia da Autonomia".Alías, convém fazer uma ressalva, projetos existem e até aos montes, contudo não para propiciar a superação e transformação do atual "status quo", tanto da educação como da própria sociedade que está inserida.Com efeito, o único projeto que se mostra "competente" até aqui, é aquele que mantém a base histórica e clássica de uma educação dualista, que agora se esconde por trás do discurso de uma pseudo-inclusão social.Não se trata apenas de questionar a sistemática política e econômica mundial vigente, principalmente após o impacto do colapso do socialismo soviético e da penetração da economia de mercado até mesmo na China.De fato, até mesmo Cuba já acena com alguma possibilidade dessa abertura, diante da sua fragilização interna e da "sedutora" oferta do efeito Obama nos EUA.Na verdade, em se tratando de educação, ainda mais a básica, o embate ideológico parece inevitável no Brasil, que procura se portar como um novo baluarte dessa atual realidade socioeconômica e política do mundo.Para tanto nossos inigualáveis governantes e autoridades são capazes de pregar ao mundo esse nosso novo "status" de potência mundial, mesmo que, sob o prisma de bases exploratórias que outrora tanto questionaram e que, no entanto, permanecem imutáveis.Enquanto isso, internamente, continuam a ceder espaço para interesses de organizações empresariais, que desde sempre estiveram na crista da onda da economia e da política nacional, que permanecem no topo do poder.A Educação nesse ponto é apenas um joguete, ou mais do que isso, um hábil instrumento, mesmo porque, a classe média, enquanto pôde pagar teve a sua escola, a igreja sempre teve a sua escola e, agora, a indústria devidamente equipada por trás do SESC, e de seu presidente Paulo Skaf, apresenta a sua mais nova escola.
Notem que, todas esbanjando investimentos, inclusive do dinheiro público, por meio de isenções e incentivos fiscais, além de tecnologia de ponta, estrutura e, é claro,prometendo muita, mas muita produtividade.Enquanto isso a escola pública de base continua seu calvário mais que secular, que em determinado momento, pensou-se poderia mudar, quando uma "empobrecida" classe média apresentava sua grita por investimentos públicos que os deixassem "tranquilos"(inclusive no próprio bolso)em ver seus filhos nela matriculados.Contudo, talvez agora cansados, ou mais provavelmente convencidos, de que uma escola pública assim tão auspiciosa, poderia colocar em xeque todo o seu projeto elitista e hegemônico de dominação, resolveram continuar pagando (e bem) o estudo seletivo e especial que lhe é oferecido por particulares e, como sempre, pelo próprio Estado.Assim uma USP da vida, pelo menos enquanto permanecer sua alta qualidade, continuará sendo o "point" dessas elites, desenvolvendo seus projetos científicos com consagrações até no exterior, mas que em nada procura modificar a situação da maior parte da população, que é vista apenas como cobaia desses estudos e como tal, assim como ratos de laboratórios "devem" continuar como e onde estão.No mesmo sentido, para aqueles que, pela própria falta de espaço continuarem a cursar Universidades pagas e "especiais" , sempre haverá a possibilidade de uma MBA no exterior, cuja semelhança com aquela possibilidade de formação de alguns filhos de grandes fazendeiros do império e do início da república tupiniquim, não me parece assim tão distante.Todavia, o discurso é o de que hoje todos podem, que os competentes se estabelecerão, só resta saber, a quem se deixará chegar a ser competente e qual o grau dessa competência "permitida".Outrossim, parece oportuno lembrar de um texto que li do Professor Paul Singer, que alerta para o fato de que os próprios, que como ele, são defensores de uma educação democrática e social, deixam em seu discurso lacunas, que os oponentes liberais não cansam de explorar.De tal sorte que, a massa de seguidores e defensores do sistema vigente, continua a ser incrementada também por aqueles que, na falta de opção, são obrigados a trilhar uniformemente esse caminho que os põe na verdade no mesmo lugar de sempre, sustentando a mais valia para poucos, sem contar do controle sob intelecto alheio.Assim, nesse contexto não me parece que o título deste Post esteja assim tão dissociado de um significado histórico, tanto que, concluindo, creio também oportuno lembrar o grande Zé Ramalho num trecho da sua bela canção "Admirável Gado Novo" sobre essa questão de "gado":"Povo marcadoÊh! Povo feliz!..."

Referências:FREIRE, Paulo. "Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa". São Paulo: Paz e Terra,1996.SINGER, Paul. texto produzido na Conferência de abertura da XVIII Reunião Anual da ANPEd, Caxambu, outubro de 1995. Disponível em: http://www.anped.org.br/rbe/rbedigital/RBDE01/RBDE01_03_PAUL_SINGER.pdf - acessado em 28/10/09

Texto produzido por Sandro Luis de Santana, 2º Semestre do Campus Jabaquara.

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