sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Capitães de Areia: uma abrodagem reflexiva

A utilização desta obra se deu pela relevância que o autor Jorge Amado tem neste período, sendo um material muito rico para fazer uma abordagem com problematizações presentes tanto na sociedade quanto relatado no livro, buscando meios para relativizar e identificar as passagens pertinentes, além de trabalhar com a interdisciplinaridade.
Contudo, o livro traz em pauta muitos problemas sociais, relações conflituosas entre órgãos governamentais, além de conflitos individuais, todavia iremos nos pautar na “Imprensa Amarela”, e depois modificada para “Imprensa Marrom”, somente para não estendermos por demais o assunto e compreendermos qual a importância deste veículo como instrumento difusor de pensamentos, ideologias e conceitos sobre determinados assuntos.
As fontes e metodologia utilizadas num primeiro momento são as seguintes: o livro Capitães de Areia, o próprio livro didático, estudo sobre vida e obra de Jorge Amado, estudo sobre o regionalismo presente na região nordeste do país e documentos correlatos ao tema.
Para melhor entendimento do percurso que seguirá este trabalho segue um breve resumo tanto da vida do autor, do regionalismo e do livro:
Jorge Amado nasceu em Itabuna, região cacaueira da Bahia, em 1912, fez seus primeiros estudos em Ilhéus e formou-se em Direito no Rio de Janeiro. Colaborou na imprensa, estreando na literatura em 1932, com o País do Carnaval. Participou ativamente da luta política do país, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro, sendo preso e, como outros prisioneiros políticos, submetido a humilhações na prisão. Posteriormente foi eleito deputado, pelo PCB, mas perdeu seu cargo, pois o partido foi considerado ilegal. Mudou-se então para o exterior, época em que visitou vários países socialistas.
Jorge Amado é o grande representante do regionalismo baiano. Suas obras apresentam uma linguagem “incorreta” e simples – pois ele retrata o falar do povo – e um conteúdo humano e social cheio de elementos folclóricos, de tradições e crenças da Bahia. Criou tipos marginalizados, utilizando-se deles para analisar toda a sociedade.
Esta literatura regionalista surge para registrar a psicologia, a fala e o mundo dos excluídos, extirpados do centro do Brasil, procurando transmitir suas emoções, os fatos da vida atual e a realidade do país de uma forma mais livre. Percebe-se um vocabulário cheio de expressões coloquiais, traduzindo a fala típica brasileira, versos livres e estilo conciso.
Trata-se de uma fase de construção, com idéias literárias inovadoras e de muita produtividade, principalmente na prosa e poesia. Politicamente, os acontecimentos eclodem, tanto fora do país (Depressão Econômica, Nazismo e Segunda Guerra Mundial) como aqui dentro do Brasil (Ditadura de Getúlio Vargas e Estado Novo).
O livro trata especificamente de um grupo de meninos de rua que vive num trapiche abandonado e são conhecidos como Capitães da Areia, o autor cita o seguinte em suas considerações sobre a obra (AMADO, 1937, p.396):

“[...] Não são um bando surgido ao acaso, coisa passageira na vida da cidade. É um fenômeno permanente, nascido da fome que se abate sobre as classes pobres. Aumenta diariamente o número de crianças abandonadas. Os jornais noticiam constantes malfeitos desses meninos que têm como único corretivo as surras da polícia, os maus tratos sucessivos. Parecem pequenos ratos agressivos, sem medo de coisa alguma, de choro fácil e falso, de inteligência ativíssima, soltos de língua, conhecendo toas as misérias do mundo numa época em que as crianças ricas ainda criam cachos e pensam que os filhos vêm de Paris no bico de uma cegonha.[...] Vivem pelo areal do cais, por sob as pontes, nas portas dos casarões, pedem esmolas, fazem recados, agora conduzem americanos ao mangue. São vítimas, um problema que a caridade dos bons de coração não resolve. [...] Os Capitães da Areia continuam a existir. Crescem e vão embora, mas já muitos outros tomaram os lugares vagos. Só matando a fome dos pais pode-se arrancar à desgraçada vida essas crianças sem infância, sem brinquedos, sem carinhos maternais, sem escola, sem lar e sem comida [...]”

A obra se divide em três partes, antes de iniciar a primeira parte no entanto, há uma sequência de reportagens e depoimentos, explicando que os Capitães da Areia é um grupo de menores abandonados e marginalizados que aterrorizam Salvador.
Os personagens principais são: O padre José Pedro, Don’Aninha (mãe de Santo), Pedro Bala, Volta Seca, Professor, gato, Dalva, Sem-Pernas, João Grande, Querido-de-Deus e Pirulito.
A primeira parte é especificamente o envolvimento dos meninos com um carrossel mambembe que chegou à cidade, exercendo seu poder infantil. A varíola ataca a cidade e mesmo com o auxílio do Padre José Pedro que vai contra a lei para auxiliá-los, um dos personagens morre.
A segunda parte trata da história de amor que surge quando a menina Dora torna-se a primeira Capitã da Areia. Apesar de inicialmente tentarem tomá-la a força, ela se torna uma espécie de mãe e irmã para todo grupo e tanto Pedro Bala e Professor se apaixonam por ela. O homossexualismo também é comum entre o grupo.
A terceira parte é a desintegração dos líderes, relatando a história individual de cada membro dos Capitães da Areia, justificando suas escolhas individuais e praticamente justificando suas escolhas por meio de suas características pessoais.
Por meio da perspectiva cultural é possível dar vida a uma relação social existente no período da obra, baseado especificamente em um trabalho interdisciplinar e uma articulação com o texto da obra, período histórico, autor e estilo literário, fazendo uma associação rica e trabalhando com outras fontes, tão importantes quanto os documentos.
O mais interessante é que por meio das reportagens constantes no livro é possível resgatar parte de uma história local.
O trabalho é árduo, pois toda obra são fortemente enraizados pelo seu autor, mas isto não tira a possibilidade de fazer um trabalho historiográfico importantíssimo para se compreender a sociedade e os problemas sociais.
Isto demonstra que é possível explicar e delinear os processos históricos, através do diálogo entre as fontes culturais e os debates historiográficos.
O papel do profissional é legitimar e explicar os momentos históricos, em busca da construção destas idéias e descontruí-las e remontá-las novamente.
Este não é um fim, apenas o início de uma pesquisa que deve ser tratada com muito cuidado, pois a Imprensa é um veículo bastante difundido em várias classes sociais e por diversos motivos, e nem por isso, deve ser tratado somente por um viés e sim receber um tratamento mais amplo, para se conhecer a fundo suas particularidades e objetivos.





Bibliografia

AMADO, Jorge, 1912-2001. Capitães da Areia; posfácio de Milton Hatoum – 1ª edição de bolso. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
CÂNDIDO, Antônio. O processo de 30 e suas conseqüências, parte do Simpósio sobre a Revolução de 1930 no RS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre: ERUS, 1983.
LAJOLO, Marisa. “Regionalismo e História da Literatura: Quem é o Vilão da História?”. In: Historiografia brasileira em perspectiva / Marcos Cezar de Freitas (org.) 6.ed., 1ª reimpressão – São Paulo: Contexto, 1998.



Texto desenvolvido por Fernanda da Silva Lira e Marcos Antonio Barreto. Alunos do 6º Semestre do Campus de Itaquaquecetuba.

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