sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Cultura de Resistência -Brasil 1960-1968

O início da década de 1960 é marcado por problemas econômicos caracterizados pela inflação, pelo alto custo de vida, pelo desemprego, pela instabilidade política e a luta pela permanecia da democracia. O país necessitava de reformas de base.
A população urbana das grandes cidades temia a instabilidade econômica, porem tinha poucas opções para agir.
Os setores progressistas da classe média se organizaram para apoiar movimentos sociais em defesa da democracia.
Em 1961, é criado o Centro Popular de Cultura. Seu plano de ação para mudanças desejadas incluía discussões sobre a realidade sócio política, econômica e cultural do Brasil.
Os CPC’s se organizavam por todo o país. Defendiam a opção pela arte revolucionaria, com o intuito de desenvolver uma atividade conscientizadora junto às classes populares. O objetivo era fazer o povo brasileiro tomar consciência da sua realidade, das injustiças sociais, da exploração do trabalhador, entre outras coisas que iam de encontro aos fundamentos ideológicos do PCB.
As manifestações culturais, artes plásticas, filmes, etc, serviam como instrumentos de conscientização dos marginalizados da sociedade. A música, principalmente, foi utilizada para retratar as dificuldades encontradas pelas classes baixas.
O CPC investiu pesado na busca de um trabalho político ideológico de conscientização, porém não atingiu os resultados desejados. Entretanto, houve grande repercussão junto a casse média.
Muitas canções, peças de teatro, cinema, literatura foram produzidas pelos membros do CPC. A partir desse movimento, por assim dizer, surge a expressão cultura de cultura de protesto.
Os militares assumiram o poder político com o golpe de 64, (o país atravessou 21 anos de governos autoritário, comandados por generais). Com efeito, a luta pela liberdade de expressão, pela democracia, e pelos direitos constitucionais dos cidadãos passou a ser mais intensa. Apesar da situação política delicada, a produção cultural não foi afetada até 1968.
Os jovens do CSP, não intimidaram a produzir trabalhos com o intuito de conscientizar a população. Assim em dezembro de 1964 nasceu o show musical Opinião. A escolha do nome tem um sentido notoriamente político e de resistência e possuía o respaldo de um segmento mais intelectualizado da classe média, que após o golpe militar, passou a se aproximar mais com as propostas do CPC.
Num certo sentido, o Opinião radicalizou e tentou realizar os termos do Manifesto do CPC.
Contudo, não foi à única tentativa de articular a critica social nos palcos brasileiros naquele momento. Entre 1964 e 1966 outros espetáculos teatrais deram grande destaque à musica no sentido, como exemplo podemos citar Arena Canta Zumbi; Liberdade, Liberdade; A Voz do Povo, entre outros.
Alem da música, o cinema trouxe um grande debate sobre a cultura nacional. O movimento ficou conhecido como cinema novo, iniciou por volta de 1960 e durou até 1967. A proposta dos filmes era mostrar a realidade brasileira e as relações sociais conflituosas, ambientadas sobretudo no mundo rural. A “estética da fome” era o principio norteados do movimento.
Entre outras produções do período estão, Vidas Secas, O Pagador de Promessas e Deus e Diabo na Terra do Sol.
A partir de 1964 o cinema foi utilizado para refletir sobre as razões da derrota política do país, levando a esquerda brasileira a fazer uma auto-critica mais radical sobre o contexto.
Nesse período foram produzidos os filmes O Desafio (65), que representou o contexto pós-golpe militar e ajudou a articular a sensação de perplexidade da esquerda brasileira: e Terra em Transe.
Ao contrario da musica, o cinema revê dificuldades em se popularizar e chegar ao grande público consumidor de cultura.

Os Festivais

Entre os anos de 1966 e 1968 os festivais da canção foram os principais veículos da manifestação da canção engajada e nacionalista, voltada para problemas sociais brasileiros.
“Em 1966, a cidade de São Paulo parou para torcer pelas músicas a “Banda” e “Disparada”. Com medo da reação do publico, os jurados decidiram considerar as duas empatadas em 1º lugar.
Em 1967 o clima político tornava-se mais tenso e sombrio. As manifestações dos estudantes pedindo a volta da democracia preocupavam o governo militar. As denuncias sobre tortura ganhavam destaque na imprensa do Brasil e do exterior.
Carlos Marighela, Jacob Gorender, entre outros romperam com o PCB e organizaram novos grupos, preparando a guerrilha contra o regime militar.
Fora do cenário político, a arte entrou no auge da popularidade, a musica popular trouxe uma geração de músicos muito talentosos, entre outros Caetano Veloso, Gilberto Gil.
As composições do período denunciavam a realidade nesse contexto, o destaque vão para Ponteio e Roda-Viva.
Contudo, o grande impacto em 1967ficou por conta de Caetano e Gil, que romperam com os temas do morro e do sertão, trouxeram as experiências urbanas e as guitarras elétricas, nascia então o Tropicalismo, com as musicas Alegria-Alegria e Domingo no Parque.
Os Tropicalistas não compartilhavam das concepções ideológicas do período. O comportamento apolítico dos representantes incomodou boa parte da esquerda brasileira, por outro lado, alguns intelectuais conseguiram enxergar a denuncia política, o atraso, as contradições e o subdesenvolvimento do país nas canções tropicalistas. No final de 1968, Caetano anunciou o final do movimento.
Em 1968 os festivais da canção continuaram com grande prestígio e foram o palco de protestos da classe media intelectualizada, estudantes, etc. Não por acaso o 3º Festival Internacional da Canção classificaria as musicas Sabiá e Pra Não Dizer Que Não Falei De Flores, sensação que ficou com o 2º lugar, até por pressão dos militares que não admitiam sua vitoria.
Em dezembro deste ano foi decretado o AI – 5, assim inúmeros estudantes, intelectuais, políticos e outros oposicionistas foram presos, cassados, torturados ou forçados a exílio. 0 regime instituiu rígida censura a todos os meios de comunicação, colocando fim a agitação política e cultural do período. Nenhuma oposição ao governo seria tolerada, era a época do slogan oficial: “Brasil, ame-o ou deixe-o”
Talvez nunca mais tenha havido na sociedade brasileira uma síntese mais acabada entre política, a vida e a arte como naquele período. A cultura reforçava identidades e valores político-sociais que formaram aquela geração.





Referência Bibliograficas:

CALDAS, Waldenyr. A cultura politico-musical brasileira. São Paulo: Musa, 205.

NAPOLITANO, Marcos. Cultura Brasileira: Utopia e massificação (1950-1980). 3 ed. São Paulo: Contexto,2006



Texto de Cíntia Rodrigues dos Santos, José Jeferson da Silva Ramos e Renata Batista Mello, Alunos do 6º Semestre do Campus Dutra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário