sábado, 25 de setembro de 2010

Literatura de Cordel: “Rei do Cangaço”

O nome Literatura de Cordel é dado às obras que são produzidas pelo povo. Essas obras não têm uma qualidade de produção artística, porém traz consigo uma difusão popular da arte folclórica. No Cordel o povo canta as crenças, os personagens, seus costumes difundindo a cultura popular.
Essa arte tem origens desde a Idade Média, chegou ao Brasil no século XVIII, com os portugueses sendo que no Nordeste do Brasil a mesma é apresentada nas feiras populares penduradas em cordões, daí a origem do nome Cordel, essa literatura é uma espécie de poesia impressa em folhetos ilustrados. É imensa a diversidade de temas que os cancioneiros abordam em seus cordéis, eles apresentam personagens históricos da cultura popular.
Lampião é um dos personagens mais recitados dentro dessa Literatura, pois sua trajetória no banditismo, fez com que os cordelistas desse a ele o crédito de herói popular e um lendário no Nordeste.
Seu nome de batismo era Virgulino Ferreira da Silva, nasceu em 1897 na comarca de Vila Bela, região do Vale de Pajéu, Estado de Pernambuco, segundo relatos sobre sua vida a quem diga que ele tinha grande interesse pelas letras. Nesse período o sertão era muito castigado por “secas” prolongadas e marcado por desigualdades sociais, a figura do Coronel representava o poder e a lei, o que levou a formação do banditismo, cujo interesse dos grupos era combater as injustiças, eram reconhecidos como bandos armados nomeados de cangaceiros. Esses cangaceiros eram contra o poder vigente dos coronéis e espalhavam medo na região. O banditismo e o cangaço é um dos temas que dentro do discurso Nortista surge como justificativa das conseqüências que a falta de investimento do Governo naquela determinada região, e com isso o nortista ou o nordestino passam a ser vistos como selvagens. E o cangaço reforça essa imagem de homem violento, de terra sem lei, onde o povo esta sobre o terror de “bandidos”, além da violência de suas oligarquias.
Existem varias controvérsias na história popular, sobre a entrada de Lampião para o banditismo, alguns contam que o pai de Lampião em um dos confrontos sociais desse coronelismo acabou sendo assassinado, despertando em Lampião o desejo de vingança e sua entrada para o cangaço, por volta de 1920, e outros acreditam que ele já fazia parte desse grupo de cangaceiros antes da morte de seu pai. O autor Hobsbawn faz uma descrição referente à entrada de Lampião para o cangaço.
“Quando ele [Lampião] tinha 17 anos, os Nogueiras expulsaram os Ferreiras da fazenda onde viviam, acusando-os falsamente de roubo. Assim começou a rixa que o levaria à marginalidade "Virgulino", recomendou alguém, "confie no divino juiz", mas ele respondeu: "O Bom Livro [A Bíblia] manda honrar pai e mãe, e se eu não defendesse nosso nome, perderia minha macheza".
Na cultura popular Nordestina Virgulino é reconhecido como o “Rei do Cangaço”, título alcançado devido as suas atrocidades. E através de atitudes desumanas aterrorizou e dominou aproximadamente seis estados do Nordeste, desafiou volantes policiais dando a eles vergonhosas derrotas. Foram muitos seus feitos, e no dia 28 de julho de 1938, chegou ao fim à trajetória do cangaceiro Lampião, que foi morto na Grota do Angico no interior de Sergipe.
Alcançar a fama e ao mesmo tempo a inimizade com a política nordestina faz de Lampião uns dos personagens mais recitados no cordel. E mesmo com sua morte, seus feitos têm sido freqüentemente temas dos romancistas, poetas, historiadores e cineastas, como fonte de inspiração para as manifestações da cultura popular, principalmente na Literatura de Cordel. Toda a atenção e sucesso do cordel ocorrem em função de ter um custo baixo e um ótimo tom humorístico, sem contar que de fato é retratado neles fatos da vida cotidiana da cidade ou da região, pois os livretos abordam assuntos como festas, política, secas, disputas, milagres, vida dos cangaceiros, atos heróicos e principalmente a religião.
No entanto existe nesse contexto uma literatura oral na qual, mitos, lendas e provérbios são passados de geração para geração oralmente. Essa literatura nem sempre tem uma autoria própria, pois é difícil reconhecer o verdadeiro autor, ainda mais sabendo que toda a estória se modifica com o passar do tempo.
Muitos historiadores e antropólogos estudam a literatura popular a fim de buscar informações sobre a cultura e a história de determinado período. Através das pesquisas, é possível tomar conhecimento das crenças, linguagem, arte, comportamento e das vestimentas de uma determinada população.

Diante da quantidade de títulos de cordel sobre a vida de Lampião, nota-se com clareza e sem duvidas o fascínio que seus feitos causaram, sejam essas histórias verdadeiras ou falsas, provando que o rei do cangaço é ídolo entre os cordelistas, e até mesmo para os próprios leitores.
Um bom exemplo da figura de Lampião como inspiração para cordelistas, são os cordéis, A Chegada de Lampião ao Céu de Rodolfo Coelho Cavalcante, e A Chegada de Lampião no Inferno de José Pacheco da Rocha.

São Pedro desconfiado
Perguntou ao valentão
Quem é você meu amigo
Que anda com este rojão?
Virgulino respondeu:
- Se não sabe quem sou eu
Vou dizer: Sou Lampião.

São Pedro se estremeceu
Quase que perdeu o tino
Sabendo que Lampião
Era um terrível assassino
Respondeu balbuciando
O senhor...está...falando
Com. São Pedro... Virgulino!
(A Chegada de Lampião no Céu, estrofes II e III)

Lampião é um bandido
Ladrão da honestidade
Só vem desmoralizar
A minha propriedade
E eu [o diabo] não vou procurar
Sarna para me coçar
Sem haver necessidade
(A Chegada de Lampião no Inferno, estrofe XII)

Contudo a literatura de cordel tornou-se um veiculo de expressão na cultura popular, refazendo trajetórias de personagens através de um olhar nordestino, que expõe o modo de vida do povo do Nordeste tratando-se do sistema vigente onde se constrói o sentimento de contestação.
A manifestação da arte nesse universo popular, vem na Literatura de Cordel onde oferece aos historiadores a liberdade de refletir sobre forma tão simples de representar o mundo e desvendar uma identidade através do passado e de buscas nas histórias orais para compreender as entre linhas.
Isso tudo porque o povo quando sofre com o sistema político e com seu habitat, ele desenvolve automaticamente maneiras diferentes de dar sentido a vida mesmo tão sofrida e busca uma tentativa de recuperar dignidade, que por vezes tem o abandono das autoridades. E com isso a negação do que de fato real, o povo quer se vingar daquele que se identifica como opressor daí a literatura de cordel entra como meio de transmitir o sofrimento, mas sempre de modo artístico, fazendo com que no imaginário existam condições de lutar e de corromper o inimigo. E muitas das vezes dentro desse desenvolvimento do imaginário cordelista, a morte e vida se confundem e representam uma coisa só.
Prova disso é que se torna obvio para o cordel recitado pelo nordestino, o cangaceiro Lampião como herói, onde ele pode destruir o inferno desafiando a autoridade que é o diabo, e sobe ao céu para ter com São Pedro sem demonstrar reverencia ou até mesmo medo. Entende-se do mesmo modo que esse é um meio de se negar muitas vezes a realidade opressora.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HOBBSBAWM, E. J. Bandidos. Rio de Janeiro/RJ: Forense Universitária, 1975.

CUNHA, Euclides. Os Sertões. São Paulo: Ed. Record, 2000.

ARAÚJO, Antonio Amaury Correa de. Assim morreu Lampião. São Paulo: Traço, 1982.

Fontes de um documentário da TV cultura.

Fonte imagem:
http://www.lendo.org/o-que-e-literatura-de-cordel-autores-obras/

Cintia Conceição dos Santos, aluna do 6º semestre de História.

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