sábado, 25 de setembro de 2010

PERMANÊNCIA E TRANSFORMAÇÃO CULTURAL NA ALDEIA TEKOÁ PYAÚ.

O conceito de permanência cultural ou tradição cultural tem sido visto pela maioria das pessoas como algo rígido ou estático e imutável, por exemplo: o índio para ser aceito como índio tem que estar caracterizado como no imaginário das pessoas: índio com penacho na cabeça, usando tanga, caçando e pescando para se alimentar. Essa caracterização é veiculada muitas vezes pelo cinema e até mesmo pelas comemorações do dia do índio que acontecem nas escolas de ensino fundamental, onde as crianças levam para casa aquele tradicional penacho feito de papel.

Entretanto, os índios estão inseridos dentro de um novo contexto social e que nós somos apenas mais um dos muitos povos que eles entraram em contato dentro de um processo histórico desde 1500 até hoje. Mesmo os que estão em regiões mais isoladas, cercadas de florestas, vivendo em um ambiente mais natural, como os índios do Amazonas, ainda entram em contato e vivem conflitos em relação à terra com o homem não indígena ou indígena de etnias. Ou seja, não podemos considerar a cultura indígena como algo isolado dentro de uma redoma.

Há hoje aldeias que estão localizadas em áreas urbanas como a aldeia Tekoá Pyaú, localizada na região do Jaraguá em São Paulo - fator que gera paroxismo se levarmos em consideração o imaginário social em relação ao que deve ser índio ou não.

Além disso, a aldeia sobre dita passa por um problema de demarcação de território que no fundo define-se pela questão: o fato de viverem numa área urbanizada e com acesso e utilização da cultura não indígena pode definir sua identidade? Trata-se, portanto, de discutir a permanência ou transformação da identidade indígena no meio social não indígena. Assim, diante da questão, podemos formular a seguinte hipótese: de que a identidade cultural, não é definida pelo isolamento, mas sim por outras ações que se revelam e se praticam num meio de troca, de dialogo e negociação cultural no qual a presença do outro não é nociva, mas sim determinante.

Há autores como Darcy Ribeiro que em seus trabalhos demonstrou uma preocupação com os índios em relação ao processo de aculturação. Para eles, os índios perderiam seus traços culturais, sendo assimilados e transformados em uma massa disforme de camponeses. Porém a estudiosa Clarice Cohn, autora que demonstra as formas que as culturas indígenas perpetuam e reconstituem sua identidade. Para ela, a reinvenção identitária nas sociedades indígenas baseia-se numa reelaboração diferenciada, ou seja, a cultura se modifica para se adaptar ao contexto social em que está inserida e, mesmo assim, não perde sua essência possibilitando sua permanência.

Diante destas questões podemos concluir que as circunstâncias do mundo não indígena sobre os habitantes de aldeias que se localizam em áreas urbanas como aldeia Tekóa Pyaú não reflete aculturação ou perda de sua identidade

Mudanças e alterações de práticas culturais podem ser utilizadas para a própria manutenção da identidade no ambiente urbanizado em que vivem. Parte-se dessa asserção com base no seguinte caso: para os guaranis o território é algo muito além da propriedade vista como um limite físico e estático, mas sim por relações simbólicas, portanto, para os guaranis o seu território ou seu espaço é o lugar onde eles reproduzem e sua cultura.

REFERÊNCIAS:

COHN, Clarice. Culturas em transformações: os índios e a civilização. São Paulo, 2001.

FARA, S Camila de. A integração precária e a resistência indígena na periferia: dissertação de mestrado ao programa de pós-graduação em geografia humana do departamento de geografia e ciências humanas da USP, 2007.

LE GOFF, Jaques. Historia e Memória. Editora da Unicamp, 2003.

RIBEIRO, Darcy. A política indigenista Brasileira. Rio de Janeiro: ministério da agricultura/ serviço de informação agrícola, 1962.

SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 2008.

SILVA, O N Fabio. Elementos de etnografia mbyá: lideranças e grupos familiares na aldeia TEKOÁ PYAÚ: dissertação de mestrado ao programa de pós-graduação em antropologia social do departamento de antropologia da USP, 2007.

SILVA, Tomaz Tadeu Da. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais, Stuart Hall, Kathryn Woodward. 7. Ed- Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

SIMMEL, Georg. O dinheiro na cultura moderna. In: Jessé Souza e b. Oelze, orgs. Simmel e a modernidade. Brasília: editora da UNB, 1998.


JOSÉ LUIZ ALVES,aluno do 6º semestre de História.

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