Lamentavelmente a maior parte da documentação que existe sobre esses rituais sempre foi produzida por autoridades policiais e pela política vigente, que estavam preocupados em descrever a invasão e a ocupação de terreiros, o fracasso das revoltas africana e pela autoridade da Igreja Católica, que sempre demonstrou interesse em desmoralizar a religiosidade negra reduzindo-a mera feitiçaria. Mesmo com toda essa limitação, ainda é possível através de documentos históricos, uma aproximação deste universo religioso.
O Historiador Luiz Mott, explica a pratica do acontudá, onde o mesmo afirma que essa manifestação religiosa vem sendo praticado desde o século XIII em Minas Gerais, o ritual também ficou conhecido como tunda e se realizava em casas humildes cobertas por capim, paredes de barros e de preferência sempre a beira de rios ou córregos.
“Quem mais se destacava na dança tunda ou dança diabólica era uma negra mina Caetana, moradora na vila de Goiazes, e na ocasião da dança pregava às outras pessoas e dizia que era Deus que fez o céu e a terra, as águas e pedras. Para entrarem nesta dança armavam primeiro um boneco que tinham feito com feitio de cabeça e nariz á imitação do diabo, espetado em uma ponta de ferro e com capa de pano branco que lhe cobria a cabeça e aparecia a ponta do focinho e as vistas cheias de sangue. E o punham no meio da casa, em um tapete pequeno, em cima de uma cruzes de travessos em cada ponta e umas poucas de ervas cozidas e em outras umas ervas cozidas e em outras umas ervas cruas e em outra um pouco de terra com mau cheiro[...]”
(Trecho do processo de 1747, do Tribunal do Santo Oficio, de Lisboa)
Outro ritual religioso de origem africana é o candomblé, que apresenta grande semelhança com o acotundá, e pode também ser reconhecido como xangôs do Nordeste. O altar onde o mesmo é realizado fica no interior de uma casa o santo são representados por pedras de búzios, fragmentos de pedras e um tabuleiro, ocorre à invocação do santo, se encerra em uma urna de barro.
Muitos dos elementos desses rituais do século XVIII são praticamente idênticos aos da atualidade, exemplo disso é o uso de aves, moringas, terra com odores, predominância feminina e o destaque de dançarinas e sacrifícios de animais e possessão e transe ao som de atabaques.
É importante observar a simbiose entre o rito do deus africano Courá, pois tem o mesmo nome de um dialeto africano, e o rito católico uma vez que a venera e a Sacerdotisa negra é a Nossa Senhora e o Santo Antonio. Do mesmo modo que, ao cultuar os santos católicos, os africanos estariam cultuando seus próprios santos, porém com outros nomes.
O historiador João José Reis explica o calundu através de documentos que encontrou na Bahia sobre rituais religiosos de origem jeje, que é uma tribo proveniente do antigo Daomé, atual Benin, na costa Ocidental da África, nos quais não há traços de sincretismo religioso. Os calundus são remanescentes da religião dos vudus, divindades que se incorporaram mais tarde no candomblé.
O centro cerimonial obtinha elementos que ainda hoje são utilizados no candomblé baiano como as ervas, búzios, dinheiro, aguardente. Os calundus tinham como função dar aos seus participantes de ritual, um sentido para a vida e um sentimento de segurança e proteção contra um mundo incerto e hostil.
A reforma pastoral, e as praticas dos fiéis em maio de 1702, tomou posse do arcebispado da Bahia Dom Sebastião Monteiro da Vide. Sua primeira iniciativa foi realizar visitas pastorais com o objetivo de examinar a fé e o comportamento dos fiéis.
Na assembléia constituinte baiana de 1707, foi realizado um reajuste nas leis canônicas de acordo com as circunstancias brasileiras, fortalecendo a instituição eclesiástica e para uniformizar praticas sacramentais, como o batismo e o casamento entre fiéis, independente de serem livres ou escravos.
A vida clerial a satisfação do clero brasileiro e dos fiéis, deveria de certo modo seguir os cumprimentos das normas estabelecidas por essas constituições, existia um documento eclesiástico onde o mesmo tinha um capitulo dedicado a vigários, capelães e padres, eram varias paginas que especificavam diversas proibições.
Entre essas proibições estavam as seguintes ordens e recomendações:
No batismo, os primeiros oitis dias de vida da criança, a mesma deveria ser levada a presença do pároco, pois se acreditava que os inocentes que morriam logo depois do batismo iriam para o céu, sem passar pelo purgatório.
Com relação ao sacramento no matrimonio, a Igreja passou a ter domínio estrutural nas colônias, e além do batismo e do casamento, os rituais que envolviam a morte e o enterro dos fiéis mereciam especial atenção. Pois os ritos funerários tinham tanta importância para a salvação dos mortos quanto para a segurança dos vivos. Os enterros eram organizados pelas irmandades a que o morto pertencia, não importando a classe social, as confrarias se encarregavam de lhe dar um enterro solene, sendo os outros membros da irmandade obrigados a comparecer as cerimônias fúnebres com velas, tochas e vestes especiais.
No caso das irmandades, era de direito para todos da sociedade, independente de raças, deveriam ser associações de caráter local, as irmandades auxiliavam a ação da Igreja e facilitavam a vida social, desempenhando grande numero de tarefas, muitas delas da alçada do governo, como a manutenção de asilos, orfanatos e hospitais, tendo como finalidade defender e promover a devoção de um determinado santo.
Referencia Bibliográfica
PRIORE, Mary Del.Religião e Religiosidade no Brasil Colonial.São Paulo/SP: Ed.Ática, Coleção História em Movimento. 1997.
Fonte imagem: leccofranca.blogspot.comMaria Jussicleide da Silva Lira, aluna do 6 º semestre de História.
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